sábado, 12 de março de 2016

A prima-irmã do tempo

A chuva já cai lá fora pelo menos umas 5 horas seguidas, e meus dedos estão agitados para desabafar a estranheza que foi, sentir a solidão sem sofrer.
Nunca curti solidão. Sempre quis achar algo pra fazer, alguém pra chamar, algo que me faça parecer viva, porque a solidão parecia meio morte, para mim.
Conversei com meu lobo hoje, e ele me mostrou que não há o que eu possa fazer até me sentir segura com este sentimento.
Eu vim pro mundo sozinha, numa gozada morreram milhões de espermatozóides e eu cheguei ao óvulo sozinha! Vou morrer sozinha. Quando estive grávida e estava parecendo uma capivara, eu estava passando por aquilo sozinha. Quando tentei me matar, eu estava sozinha. Quando eu aprendi a fumar, estava sozinha. Quando eu descobri que estava só, eu já estava bem mais que sozinha...
e foi assim que comecei a entender de qual solidão estávamos falando...
Sobre a solidão de acordar e não ter ninguém ao lado.
A solidão de preparar sua comida, sentar-se e se alimentar.
A solidão de sair na rua para ir ao cinema.
A solidão de sentir medo ao sair para a rua.
A solidão de enfrentar a própria solidão.


Não sei até onde vai, se é consequência, se vai ser confortável, se vai passar...
Só sei que belisca a nossa pele, puxa os cabelos, deixa com fome, deixa bagunça e reorganiza... A solidão cria outro ser, e não me diga que sempre será boa, pois o propósito da solidão de cada um, é intransferível. Cada um com seu escudo, com seu vazio, com o seu cheio de nada... Com sua confusão organizada...

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