sábado, 26 de maio de 2007

Sossega, coração!

Sossega, coração! 
Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres. 
Então, livre de falsas nostalgias, 
Atingirás a perfeição de seres. 
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo! 
Pobre esperança a de existir somente! 
Como quem passa a mão pelo cabelo 
E em si mesmo se sente diferente, 
Como faz mal ao sonho o concebê-lo! 
 Sossega, coração, contudo! 
Dorme!
O sossego não quer razão nem causa. 
Quer só a noite plácida e enorme, 
A grande, universal, solente pausa 
Antes que tudo em tudo se transforme.


( Fernando Pessoa)

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